sábado, 21 de agosto de 2010

Espelhos da alma

Numa noite escura, cinza e silenciosa, em meio a angustiantes nevoeiros provocados não sei se pelo tempo ou se mesmo pelo embaçado dos meus olhos, não se era possível visualizar qualquer forma que estivesse a mais de uns cinqüenta metros de distância. No entanto, surgia caminhando em minha direção uma sombra não muito grande, esperei a aproximação inevitável, afinal, os nossos caminhos se entrecruzavam, minha tensão do momento se desfez após o desvendar do encontro, era apenas um cão que caminhava no centro do negro e brilhoso asfalto iluminado pelas poças d’água a luz da lua. Parei para ver a figura de pelos cinzas e brancos, vistosos, sua aparência era extremamente bela, bela como um idoso que parecia resguardar inúmeros passados não confessados. Mas, nunca havia visto um olhar e semblantes tão tristes, andava com a cabeça baixa como se carregasse o peso do mundo nas costas, caminhava e apenas seguia sem direção, só andava enquanto havia forças para continuar e nenhuma distração para lhe envolver. Fui esfregar meus olhos só pra não ter dúvidas de que via miragens, fantasmas, ou se não era eu mesma que criava aquela figura, no entanto só me restou o nada e minha forma agachada com o olhar fixo no chão numa daquelas poças que refletiam a lua, as estrelas e ao lado do meu rosto um cão de alma rasgada que agora estava dentro das minhas retinas. Calafrios tomaram meu corpo inteiro, despertei de um sonho, ainda à noite, com os pés frios tocando o chão do quarto, espirros como de costume, caminho entre o sono, o sonho e a realidade até o banheiro lá onde tudo se desfaz e novamente somos despertados para o nosso cotidiano, mais ou menos sem ânimo lavando o rosto, mas evito o espelho sei que há algo nos olhos que não quero que nem mesmo eu os veja. Os olhos... é lá que não conseguimos esconder nada, palavras são ótimos disfarces, mas como já dizem, mas não sei quem, olhos são espelhos da alma e os outros os decifradores dela, para isso um menifesto às cegueiras momentâneas: que se fechem os olhos, se abram os ouvidos e se acentuem os sabores das dúvidas.

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