sábado, 30 de outubro de 2010

De Mar a Mar e despedidas...

Mar, amor de tantos poetas
Casa mais esta que a ti fez juras de solidão
Sela este brinde com ondas salgadas
Que o doce já não sente o coração

Traga consigo o canto das sereias
Ou teus monstros mais exóticos
Nosso medo tu não alteias

E não sinta de nós pena
Pusemos-nos à deriva por vontade
Mesmo não tendo a alma serena
Basta-nos tanta realidade

Entre tanta correnteza
E Durante as noites mais escuras
A lanterna estará sobre a mesa
A tinta será derramada
O pincel esquecido
A letra borrada
O Caderno preenchido

Esvazia-nos, Mar
Ao mesmo tempo em que nos preenche
Toma o que teu é
E dá-nos em retorno uma nova mente

- Au Revoir!
- Arrivederci!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

02:28

É assim que tudo termina? Tu já sabias, admita!
Por mais que tu não demonstres... Sua consciência é aguçada... é?!
E sim... finja ser forte, todos no final esperam isso
Você sabe que seus ombros poderiam ficar mais leves?
Mas insistes na complexidade, insistes no que não conheces?

Tu querias descobrir os mais adoráveis e terríveis gostos que tem o incerto?
Pois é, agora o prove. Já tens todos os ingredientes?
Não. Ainda faltam mais, porque você não chora...
Tu sabes, as lágrimas não ultrapassam as bolsas que tens nos olhos
Também... são tantas noites sem dormir, elas tem bastante espaço para comportá-las.

Será isso mais uma vez? Sempre estás nas superfícies?
O oceano é ainda maior, muito mais profundo
É no mais escuro azul que toda água fica transparente
E quando a sua respiração te sufoca, quando teu corpo quer mais um fôlego
É aí que saberás onde mora a dor do outro

Não suponha um mundo que não conheces
São imensos os labirintos recorrentes em toda a humanidade
Tu és apenas um espelho dela, não penses que és o único ser a se perder neles
E se é para ser assim, que não o sejas. Exista!
Por que não consegues dizer não?
Toda a sua razão leva a mais sensata resposta

E queres ser sensata? Não completamente?!
Viver apenas racionalmente é viver? Sei, sabes que não,
Só não penses que continuar da forma em que vais, vais a algum lugar,
vais é se perder...
Os caminhos são imensos e eles podem engolir-te
Mas é exatamente isso que queres?
Sabes que é no se perder que vais te achar

Fuja das frases feitas, como a última agora dita.
Muitos mentem, queres também que eu não minta?
Quem tu achas que contam verdades?
Confias no que dizes, completamente? Ou és covarde?

Tenhas na mão um pincel, na cabeça uma imagem e pintarás o que quiseres, certo?
E as pessoas verão o que querem ver, certo?
Completamente errado, subestima-os.
A linha entre o que sustenta uma interpretação e do que se aproxima da realidade é perceptível quando vivenciada por muitos
Achas que isso te diz o que é real?
Viva, reflita, duvide
Quem sabe serás um dos poucos que tomam o caminho contrário.

sábado, 21 de agosto de 2010

Espelhos da alma

Numa noite escura, cinza e silenciosa, em meio a angustiantes nevoeiros provocados não sei se pelo tempo ou se mesmo pelo embaçado dos meus olhos, não se era possível visualizar qualquer forma que estivesse a mais de uns cinqüenta metros de distância. No entanto, surgia caminhando em minha direção uma sombra não muito grande, esperei a aproximação inevitável, afinal, os nossos caminhos se entrecruzavam, minha tensão do momento se desfez após o desvendar do encontro, era apenas um cão que caminhava no centro do negro e brilhoso asfalto iluminado pelas poças d’água a luz da lua. Parei para ver a figura de pelos cinzas e brancos, vistosos, sua aparência era extremamente bela, bela como um idoso que parecia resguardar inúmeros passados não confessados. Mas, nunca havia visto um olhar e semblantes tão tristes, andava com a cabeça baixa como se carregasse o peso do mundo nas costas, caminhava e apenas seguia sem direção, só andava enquanto havia forças para continuar e nenhuma distração para lhe envolver. Fui esfregar meus olhos só pra não ter dúvidas de que via miragens, fantasmas, ou se não era eu mesma que criava aquela figura, no entanto só me restou o nada e minha forma agachada com o olhar fixo no chão numa daquelas poças que refletiam a lua, as estrelas e ao lado do meu rosto um cão de alma rasgada que agora estava dentro das minhas retinas. Calafrios tomaram meu corpo inteiro, despertei de um sonho, ainda à noite, com os pés frios tocando o chão do quarto, espirros como de costume, caminho entre o sono, o sonho e a realidade até o banheiro lá onde tudo se desfaz e novamente somos despertados para o nosso cotidiano, mais ou menos sem ânimo lavando o rosto, mas evito o espelho sei que há algo nos olhos que não quero que nem mesmo eu os veja. Os olhos... é lá que não conseguimos esconder nada, palavras são ótimos disfarces, mas como já dizem, mas não sei quem, olhos são espelhos da alma e os outros os decifradores dela, para isso um menifesto às cegueiras momentâneas: que se fechem os olhos, se abram os ouvidos e se acentuem os sabores das dúvidas.

sábado, 27 de março de 2010

Da brisa, de um pássaro e do livro desencapado

Ao vagar em certo lugar, ao menos isso sei, que chamavam devaneios e ao encontrar ali poucos obstáculos, dei-me conta de estar numa imensa sala de paredes ricamente adornadas com inúmeras estantes de madeira de lei repletas de livros. Ao discorrer o meu olhar pela suntuosa sala, vi de relance no canto esquerdo e no fim da última prateleira certamente algo que destoava ao organizadíssimo e harmonioso acervo. De fato a sua utilidade fôra drasticamente minimizada, no momento só servia de escora para que os outros não saíssem de seu milimétrico espaço minuciosamente pensado pelo colecionador de capas. Com certeza seu tempo ali já estava mais do que ultrapassado, bastaria que a estupefata ambição do colecionador descobrisse outra bela capa a qual se encaixasse perfeitamente com as formas, tons e cores de seu acervo para que com brevidade fosse substituído. Caso não tenha ficado claro, a coleção da qual relato é de livros e pasmada fiquei ao notar que o interesse do surreal lugar era mesmo o citado, apenas as capas pouco importava o teor das páginas. Então, após essa mínima sondagem feita aos umbrais, fui ouvir o que o tal livro desencapado tinha a relatar, pois fiquei um tanto irrequieta ao saber que a principal regra do lugar era de nunca, jamais, nem por um segundo, deixar os livros abertos para que assim suas capas pudessem ser absolutamente conservadas a fim de que nada fosse modificado. Aproximei-me de leve, ainda mais leve do que costumo ser e como quem nada quer do tal livro fui cuidadosamente escutar os sussurros sufocados os quais depois também se revelaram a mim sufocantes dado o angustiante estado no qual se encontrava e do peso de suas confissões, estava mais do que no lugar errado. Ao conversar, disse-me que já não agüentava mais estar sempre preso ao mesmo lugar e escutar sempre as mesmas ladainhas que se esvaíam em superficialidades e em julgo de aparências, ansiava em um desespero aterrador que alguém se interessasse por palavras e por significados, a ele pouco importava-lhe a capa o que mais desejava era saber o que estava por detrás dela. Sabia que já havia passado pelo mesmo que esses tantos, já valorou por demais os títulos, sub-títulos, as artes das imagens que vestia até que pelo acidental rasgo de um espelho perdeu sua roupa e viu-se despido em palavras, palavras essas que diariamente tinham o poder de o conflitar ou pacificar, o preencher ou esvaziar, podiam também aprisionar, no entanto eram as combinações e confrontações de letras, palavras, idéias e interpretações que mais tarde o guarnecia de um âmago de liberdade, mas sentia falta de poder externá-la. O que mais ansiava era que no lugar reservado a intocável coleção uma ventania revirasse tudo no lugar, levasse consigo todas aquelas capas a fim de que não só ele experimentasse o novo das novas palavras e do reboliço que as novas junções de idéias poderiam trazer a todos os outros daquele lugar tão tolhidos por suas visões direcionadas, insuficientes e instantâneas, tão ligadas a irrelevantes superficialidades. Infelizmente, senhor pássaro, sinto lhe frustrar, não sei como ficou o livro, não pude saber do desfecho desse casual encontro, pois não marquei o caminho de retorno, fui levada às pressas para as revoltas ondas e não soube como voltar. Contudo ainda espero que algum dia ainda ouça de outros ventos o que aconteceu por lá.